Como a morte inexiste para o Espírito (imortal), o querer morrer representa um desejo de libertação de condições ora limitantes, impeditivas da expressão existencial conforme as intenções do ser aqui encarnado. Dores físicas e sofrimentos morais são frequentemente os causadores de tal desejo, uma verdadeira armadilha para aquele que já acessa em sua consciência os ensinamentos universais da espiritualidade.
Dificuldades são parte dos choques energéticos necessários à depuração e afinamento das vibrações existenciais. Se o processo nos incomoda é porque ainda não conseguimos realizar nosso intento. Se o som que sai do instrumento ainda não é melodia aprazível aos ouvidos, cabe ao músico aprimorar a sua técnica pela prática persistente. O esforço para o necessário enfretamento dos obstáculos se alimenta da certeza de que, um dia, será capaz de expressar as sublimes notas da obra musical.
Passar por dificuldades é experiência obrigatória para a evolução. Se viver parece difícil, a primeira fase do morrer pode ser terrível para quem não aceitou as leis da evolução, vide a situação dos suicidas. Dor física e sofrimento moral são específicas da história milenar de casa um. Ninguém pode analisar o que sente o outro. Podemos apenas lembrar porque estamos aqui e que a desistência não nos é permitida pelas regras do jogo. Há motivos para tudo que vivemos, pois nada é gratuito ou por acaso. Cabe descobrimos como superar, sublimar, corrigir, resolver, curar, acalmar, controlar, expurgar, depurar. Por mais que lamentemos, parece que (de alguma forma) sabemos que devemos persistir (talvez codificado como instinto de sobrevivência).
Existem casos de pessoas que morrem vivas por conta do desespero só de pensar em ter que abrir mão deste corpo. Mas também há pessoas em estado de câncer terminal demonstrando um excepcional equilíbrio, capazes de harmonizar todos os entes queridos antes de partir. O conceito que temos de vida e morte determinará como chegaremos ao instante do desenlace, se equilibrados para despir esta roupa carnal ou agarrados a ela como se fosse a nossa própria essência, sofrendo enquanto nos é (literalmente) arrancada.
Muitos falam sobre a libertação das coisas materiais como importante passo para a espiritualização. Mas, o abandono das missões do Espírito, longe de ser parte compreensível do processo de nascer, viver e morrer em casulo material, é apenas o abandono das oportunidades de crescimento, causando profunda insatisfação, submissão limitante e incapacidade de harmonização vibracional no imediato pós-vida carnal, ou seja, imputamo-nos maior sofrimento espiritual em casos de desistência.
Para os estudiosos da espiritualidade, abandonar o viver não é a mesma coisa que entender o morrer como sendo natural. Nunca será uma opção positiva para o Espírito construir em sua consciência a noção de que pode retornar ao plano espiritual quando assim o desejar. Não cabe a nenhum de nós decidir sobre isso. No tempo certo, retornaremos. A forma como lidarmos com isso definirá muito do acontecerá depois.
Além disso, a vida espiritual ainda não é boa para Espíritos em provas e expiações, pois nossos defeitos nos dificultam a permanência em faixas de vibração mais elevadas. Melhor é permanecer encarnado enquanto não tivermos desenvolvido harmonia suficiente para enfrentar o desenlace carnal, sob pena de adentrarmos num “verdadeiro” inferno na erraticidade.
Ninguém deve alimentar o autoengano de desejar morrer, até porque a forma como lidamos com o viver é que importa mais que tudo. É aqui que podemos definir as condições em que chegaremos a nova fase existencial, se libertos para a continuidade consciente do processo evolutivo ou presos às memórias e sensações de uma expressão carnal que longe se encontra de representar, nesta última personalidade, tudo o que somos enquanto Espíritos de inúmeras vivências.
Mensageiros da Transição (MdT2057), 8MAR2021