Mesmo para aqueles que, como nós, buscamos seguir os dias em maior equilíbrio das energias vitais, já tendo assimilado o viver como uma jornada evolutiva em múltiplos planos existenciais, o temor da morte carnal eventualmente se apresenta às nossas consciências, causando-nos angústias mesmo mínimas e momentâneas. São instantes onde, por qualquer insegurança vibratória, a fé na origem, sentido e destino de nossas individualidades se fragiliza, permitindo que a confiança em uma existência multimilenar (sem recordações acessíveis) seja desafiada pela certeza das dores e sofrimentos do cotidiano nesta dimensão de energias densamente condensadas.
Quando passamos por tais situações de confronto consciencial, frequentemente somos iludidos em armadilhas lógicas que nos projetam o desconhecido como o oposto do que nos é conhecido. Sentimos angústias pelo insondável que, estranhamente é temido a partir de referências que mantemos sobre aquilo que seria sondável, ou seja, sentimos medo da morte, considerando-a uma oposição ao que entendemos por vida. Se viver é o que sabemos ser e fazer repetidamente ao longo dos dias carnais, morrer deve ser deixar de ser e fazer aquilo que já conhecemos.
Podemos dizer que o medo de morrer seria então o apego ao que se percebe como sendo a existência. Mas apegos não são necessariamente nocivos, pelo contrário. Se enxergados como sendo uma forte ligação com algo estimado, o Cristo certamente tem imenso apego a todos nós, seus irmãos da retaguarda, e o Pai deve nutrir profundo apego por toda a sua obra multiversal. O problema reside na natureza daquilo que estimamos – a exploração das sensações físicas desconectadas daquelas que são emanadas e percebidas pelos outros corpos dimensionais.
O apego à vida é um princípio existencial, nunca poderia ser questionado ou criticado. Mas o que é a vida? Estaria ela restrita a um corpo num espaço-tempo? A uma fase evolutiva da escala? Viveríamos ora aqui ora lá? Ou vivemos desde sempre, pois pulsamos a energia emanada da fonte suprema da Criação? A vida é, simples assim. É o agora e o antes e o depois; é possibilidade e realização; é agir, refletir, sentir; é passamento por ocorrências que nos alteram os fluxos do instante. A vida é o pulsar da essência divina (nós, Espíritos) no seu processo de refinar a frequência e a intensidade do pulso. Assim, vivemos desde que fomos criados e permaneceremos dessa maneira durante toda a existência definida pelo Criador.
Então enfrentamos não uma questão de conceitos, mas sim dos seus escopos, origens e sentidos, de suas definições. O pouco que conhecemos da verdadeira existência em plenitude divina limita as expectativas que podemos ter sobre a jornada evolutiva e mina as nossas esperanças em relação ao porvir. Assim, por esta perspectiva do agora, morrer no corpo físico seria necessariamente ruim diante da confusão consciencial na qual muitos de nós se encontram em suas atuais existências carnais, posto que, espiritualmente, somos o que manifestamos e, por sua vez, manifestamos aquilo que acreditamos.
Se temermos a morte como um fim, então ela nos será um grande vazio repleto de escuridão. Uma total ausência de luz, de percepção, de conhecimento do que houver por lá. Inclusive nem poderíamos ali estar como observadores do passamento, já que, como mortos, tudo teria se findado no momento crítico da extinção destes corpos materiais densos. A morte seria a completa negação da existência. Mas este é o conceito materialista da vida e assim sendo, deveríamos nos questionar por que preceitos dessa natureza ainda dominam nossas consciências.
Viver como essência divina ainda nos é um fardo aparentemente pesado demais. Enquanto estudantes sobre a Espiritualidade, já queremos manifestar esta imortalidade aqui mesmo, mas somos sufocados pelas questões da extinção física, ou seja, da materialidade dos corpos e suas sensações, inclusive mantendo-nos ainda transferindo para estes casulos de matéria densa a guarda dos sentimentos mais nobres edificados ao longo de inúmeras vidas: o amor em todas as suas expressões. Prova disto é o desespero que nos acomete quando do desencarne de um ente querido. Poucos colocam suas energias no preparo das condições de transição pelas quais este já se encontra passando. O corpo que se vai não leva, nem deixa o amor que não lhe pertence, posto que tal sentimento é energia divina do Criador e de suas criaturas, que não se extingue jamais, muito menos com as mudanças de estado da matéria.
O que concebemos como morrer é tão limitado que nem percebemos tal tipo de temor nos perturbando frequentemente, não somente na hora do desenlace físico. Tanto os ainda presos nesta dimensão material quanto aqueles libertos do fardo carnal, nós, os Espíritos em evolução, enfrentamos a obscuridade que nos cerca as lembranças mal interpretadas e os sonhos ainda desconectados do nosso destino divino. Assim, permanecemos manifestando mal as nossas existências enquanto somos incapazes de pulsar conscientemente a vida em qualquer dimensão a qualquer tempo.
Não morremos porque nem nascemos. Tais conceitos são frutos de nossa ignorância momentânea. Se quiséssemos, poderíamos falar em criação e extinção, pois, antes de tudo, fomos criados como manifestações divinas, vocacionadas para a expressão existencial por meio de diferentes instâncias de nós mesmos, todas elas sempre integradas à própria essência individualizada (que é cada um de nós). Desde que manifestados pela Inteligência Suprema como suas criaturas-espíritos já estamos vivos, já existimos, independentemente de qualquer expressão (corpo) em qualquer dimensão (plano) de qualquer orbe (estrela ou planeta).
Então, do ponto de vista espiritual, o nascer (em um aqui-agora dimensional) é uma expressão da manifestação divina (Espírito) que, pelos meios disponíveis de informação e capacidade de manipulação energética, dá forma a casulos energéticos (corpos) para experienciarmos as interações energéticas mais densas, aprendendo a vibrar energias em padrões mais sutis (elevados) e assim nos capacitarmos ao estabelecimento de diferentes e melhores sintonias com outras manifestações de natureza semelhante.
E morrer, em decorrência do mesmo conceito, é o encerramento desta experiência pelo cessamento da expressão espiritual naquele aqui-agora dimensional, permanecendo na fonte original da manifestação divina (no próprio Espírito) os registros energético-informacionais das intenções, emanações e interações energéticas ocorridas nos níveis de consciência disponíveis. O morrer de um casulo dimensional nunca poderia representar a extinção de uma manifestação divina da Inteligência Suprema. Somos muito mais do que imaginamos.
Para não fugir da profundidade que o tema nos pede, certamente, nossa natureza divina nos promove ao status da imortalidade como a concebemos agora. Então, por esta perspectiva, inexiste o morrer, restando-nos apenas conceber a possibilidade de uma extinção existencial. E mesmo assim, somente quem nos criou poderia saber e ainda desejar nos eliminar definitivamente de sua presença. Entretanto, somos criados para nos tornar cocriadores junto a Inteligência Suprema, logo, nenhum sentido faria que ele desejasse ou viesse a promover tal extinção. Assim nos informam os enviados sublimes.
Enquanto não vivenciarmos a existência a partir da perspectiva espiritual, continuaremos a alimentar conceitos equivocados que nos atemorizam pela presunção de que sabemos o desconhecido pelo conhecido, o não manifestado pelo manifestado, o morrer pelo viver. Enquanto isso, passamos as oportunidades de verdadeiramente ser em plenitude, deixando de viver conforme fomos criados. Mas sempre é hora de despertar.
Mensageiros da Transição (MdT2057), 8MAR2021